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DESAFIOS ESCRITIVA 21 - 40


ENUNCIADOS DESAFIOS ESCRITIVA 21 – 40

Se quiseres participar no projeto ESCRITIVA  e fazer parte do segundo livro de Desafios de Escrita Criativa, só tens que escolher os desafios que mais te agradam, escrever um texto (ou vários textos) com 77 palavras, nem mais, nem menos e identificar o(s) teu(s) texto(s) com os seguintes dados: nome completo, idade, cidade (na qual vives ou a de origem) e o número do desafio escritiva.

Quando tiveres tudo isto em ordem, envia o resultado para o email escritiva2018@gmail.com

Obrigada e toca a escrever!


DESAFIO ESCRITIVA 21 – Falsos amigos

Em espanhol e em português há muitas palavras traiçoeiras que me passam rasteiras com alguma frequência. Por exemplo, cola, que em espanhol é fila, seta, que em espanhol é um tipo de cogumelo ou vaga, que em espanhol é preguiçosa.

Isto que me acontece com estas duas línguas, ocorre também com  muitas outras, por isso, acho que este “falsos amigos” merece, ser “denunciados”.

Aqui fica a minha queixa:

Andava há horas à procura da seta amarela que me indicaria o caminho certo, quando me encontrei com um senhor simpático que me garantiu saber onde poderia encontrar “setas”. Eu, que queria apenas uma, pensei que melhor “setas” a mais do que a menos. E lá fui atrás dele. Não, não descobri o albergue de peregrinos, mas comi um belo prato de “setas”, que eu conhecia apenas como cogumelos, acompanhado de um belo “vaso” de vinho tinto!

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca


DESAFIO ESCRITIVA 22 – Apanhado com a boca na botija!

Nunca lhe aconteceu estar parado no trânsito e sentir aquela tentação de “limpar o salão” com jeitinho para ninguém o ver? E nunca tentou ouvir uma conversa atrás da porta? Não? De certeza? Eu sim!  E o pior não é admiti-lo o pior é a vergonha que se passa quando somos apanhados em flagrante. Nem sempre é fácil sair do apuro.

Eu resolvi a situação assim:

Fora discreta, esperara até que todos estivessem a dormir, desceu sem fazer ruído, fechou a porta devagarinho, abriu a gaveta, tirou os talheres, um prato e atirou-se à vítima sem piedade. Sem restos que a incriminassem, voltou terrivelmente satisfeita. Dormiu como nunca, sem qualquer remorso, mas a liberdade durou pouco:

 - Minha menina, estás de castigo! Comeste o bolo todo e não digas que não porque tens o corpo cheio de borbulhas.

 - Oh não, o bolo tinha nozes...

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca


DESAFIO ESCRITIVA 23 – Guias de viagem

Não sei vocês, mas eu podia bem trabalhar para o Turismo de Portugal tal é a promoçõa turística que faço do país. Eu devia receber uma percentagem por cada amigo ou colega que já foi a Portugal depois de ouvir as minhas recomendações, juro-vos que estaria rica! Desconfio bem que às vezes até têm expriências menos positivas, mas não se atrevem a dizê-lo e eu continuo nisto a recomendar Portugal.

Ora bem, o desafio não é recomendar destinos em Portugal, que também pode ser e a gente agradece, mas sim escrever em apenas 77 palavras uma recomendação que dê mesmo vontade de visitar um determinado destino, ir comer a um determinado restaurante, assistir a uma determinada festa ou romaria, ou todo o contrário!

Se não quiser ficar a cheirar a sardinha assada e com hálito de caldo verde, não pense pôr aqui os pés. Se gosta pouco de confusões, gente muito alegre munida de martelos e alhos porros, nem sequer perca tempo a fazer as malas. Se tem ouvidos sensíveis, um coração debilitado e colesterol elevado, não arrisque: o fogo de artifício é potente. E se é pouco dado a socializar, o São João não é mesmo festa para si!

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca


DESAFIO ESCRITIVA 24 – Histórias da Carochinha em 77 palavras

Quando eu era pequenina, ou melhor, desde que sou pequenina que demoro, em média, uns 2 minutos a adormecer. Ora isto para uns pais que incentivam a leitura é algo frustrante, porque nunca passavam da 2ª página dos contos. Vendo que eu nunca chegava ao final das histórias e que pedia sempre (mas mesmo sempre) para começarem a história desde o princípio, a minha mãe adoptou uma estratégia: contar tudo no menor tempo possível, conseguindo assim que eu ouvisse tudinho antes mesmo de fechar a pestana. Como podem imaginar, só anos mais tarde percibi a quantidade de pormenores que havia em cada uma das histórias, mas no essencial a capuchinho salvava-se, a tartaruga ganhava a corrida e Cinderela acabava com o princípe.

Pois bem, peguem numa história da vossa infância e contem-na em nada mais, nada menos do que 77 palavras. Eu escolhi esta:

Era uma vez 3 ursos, uma casinha, um bosque e uma menina armada em espertinha.

Andavam todos a passear, quando a menina se pôs a bisbilhotar.

Viu uma casa e decidiu entrar. Comeu, bebeu e adormeceu.

Dormiu, roncou até que se assustou com 3 ursos resmungões que lhe pediam explicações: queriam saber que história era aquela de entrar numa casa que não era dela.

Assustada, levantou-se a correr e fugiu disparada para onde ninguém a pudesse ver.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca



DESAFIO ESCRITIVA 25 – AMAR-TE ou A MORTE? 

Estava eu muito entretida a corrigir uns vídeos que os alunos tinham feito, quando percebi que um deles se tinha enganado ao dizer “amar-te” em vez de “a morte”. No contexto, provocava bastante confusão porque enganou-se o tempo todo, mas pensando bem, de um ponto de vista poético, ele criou algo muito bonito.

Ora eu não sei vocês, mas eu dedico-me muitas vezes a mudar as letras de sítio, a acrescentar 1 letra à palavra e a ver o que acontece. Por exemplo: AMOR, ATOR, TORA, TROA, TROPA, TOPA, TIPA, TRIPA e posso estar assim até não encontrar mais: RISO, PISO, PESO, PRESO, PRETO, PRATO, PATO, PITO, APITO ou RITA, FITA, FRITA, GRITA, GRUTA, GRUA, RUA, TUA, TUNA

O que é que eu vos peço? Peguem num destes exemplos que eu vos dou, ou criem um vosso, e usem as palavras no vosso texto de 77 palavras. Não se esqueçam de indicar a negrito as palavras que escolheram. Ah e usem-nas na mesma ordem pela qual as escreveram (do princípio para o final) ou no sentido inverso (do final para o princípio)

 - Rita, como é que perdeste a fita?

-        Ai a fita! Se ela descobre estou frita!

-        Credo,  não exageres, ela grita, é só isso que ela sabe fazer: gritar para toda a gente ouvir.

-        Maldita a hora em que entrei naquela gruta...

-        Gruta, que gruta? Tu disseste que estavas bloqueada porque havia uma grua que não deixava ninguém atravessar a rua.

-        Que ideia a tua! Eu estava era com a tuna a ensaiar a serenata para a Renata!

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca


DESAFIO ESCRITIVA 26 – Mistérios da natureza humana

Eu viajo com frequência, é um facto. Eu gosto de observar comportamentos humanos, é outro facto e devo dizer que há série de coisas que, como se diria na minha terra, me “fazem espécie”, ou seja me deixam intrigada. Uma delas é esta mania, que já se tem estendido no tempo e no espaço, de fazer filas nas portas de embarque imenso tempo antes de começar o embarque. E não me venham com a conversa de que não há lugares marcados porque é uma treta, as pessoas adoram fazer filas, tenham ou não lugares marcados. Parte boa? Agradeço ter gente organizada à minha volta, mas fico um bocadinho ansiosa porque desconfio sempre que sou eu que vou ficar sem lugar no avião ou coisa que o valha. Outro “mistério da humanidade” é a técnica da “mochila com o companheira de viagem”. Passo a explicar: há gente que mal se senta, põe logo a mochila no lugar do lado, sendo que NUNCA vi ninguém comprar um bilhete para a sua mochila querida. Ora quando eu tenho a ocorrência de perguntar “Está ocupado?” a cara é sempre de “Não vê que vou ter que pôr a minha mochila no chão? Como é capaz de fazer isso?”

Bom, de certeza que vocês também se encontram com estes e outros “mistérios da natureza humana”. Eu partilho aqui um que não deixa de me surpreender:

Os auriculares inventaram-se para cada um ouvir a música que quer, mas há quem não os use como deve e insista em subir o volume partilhando o seu mau gosto com toda a gente. Por que é que só quem tem maus gostos musicais é que é assim generoso? Apelo aos amantes da boa música que saiam à rua,  ponham o volume no máximo e deixem o bom gosto transbodar dos vossos auriculares para os nossos ouvidos.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca

DESAFIO ESCRITIVA 27 – Cheiros

Os cheiros transportam-nos para outros tempos, para outros lugares, às vezes bons e outras vezes nem por isso.

O cheiro a chulé não é que seja muto agradável, mas a mim traz-me lembranças divertidas pelas partidas que pregavamos a um amigo que era uma autêntica doninha fedorenta. O cheiro a alho também não me incomoda pois faz-me pensar no Natal e na cozinha cheia de gente a preparar petiscos.

Enfim, há muitos cheiros que nos trazem boas lembranças.

Aqui fica um cheirinho de boas recordações:



De repente, sentiu-se viajar no tempo, deixou-se envolver pela lembrança da cave onde o avô guardava as ferramentas para ressuscitar as bicicletas dos miúdos do bairro. Recordou a primeira queda e o primeiro beijo às escondidas da mãe. O primeiro cigarro, e o último que a asma não dera para mais. Recordou os calendários, as imagens do Tourmalet, os dias na beira da estrada à espera dos heróis. De repente, o cheiro intenso a cola fê-lo viajar.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca



DESAFIO ESCRITIVA 28 – Manuais de instruções

Detesto ler manuais de instruções, mas reconheço que são úteis. Por exemplo, para entender como funcionam as pessoas. Já vos aconteceu pensarem que seria útil que as pessoas viessem com manuais de instruções? E os sentimentos? Ui, isso é que era!

Deixo-vos aqui um possível manual de instruções:

Para otimizar o bom funcionamento do aparelho, não deverá mantê-lo fora do alcance das crianças. Recomendam-se, aliás, o toque, as gargalhadas e a energia dos mesmos para recarregar a bateria. Deverá mantê-lo afastado de desgostos e desilusões, zaragatas ou discussões e em caso de rotura procure a ajuda dum especialista: não tente repará-lo usando caixas de ferramentas alheias, pois poderá causar danos irreparáveis. Esteja atento ao ritmo da máquina e deixe-a descansar entre 8 a 10 horas.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca



DESAFIO ESCRITIVA 29 – Histórias de amor entre objetos

Fevereiro é o mês das histórias de amor e eu sou toda uma lamechas que se emociona com qualquer história romântica.

De tal forma que às vezes dou por mim a pensar que sentirá uma garrafa de água com gás quando perde o seu precioso líquido, ou o quanto sofrerá uma embalagem de chocolate sem o seu querido docinho... Eu sei, eu sei, sou assim... apaixonada.

Pois bem, que venham daí essas histórias de amor entre objetos que se vejam separados contra a sua própria vontade.

A minha ficou assim:

Já tinha tido outras companheiras ilustres, vintage, de famílias abastadas e com heranças incalculáveis, mas nenhuma dessas companhias tinha aquela leveza, alegria, energia ou vivacidade. Vivia, felizes, um amor que sabiam ser efémero e procuravam, no fundo da prateleira, prolongar aquela história de amor condenada a diluir-se no tempo. E esse dia chegou: conscientes do momento, ficaram abraçadas a ver como destapavam o seu amor e como entre elas se interpunham, pouco a pouco, mão, copo, boca...

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca





DESAFIO ESCRITIVA 30 – Boas notícias

Nunca se cansaram de abrir o jornal ou de ligar a televisão e ler ou ver apenas más notícias, cheias de mortes, de roubos, de corrupção, de abusos de poder e sabe-se lá mais o quê? Eu sim! Canso-me muitas vezes e alimento a ideia, talvez utópica, do dia em que vou ligar a televisão e vou assistir apenas a notícias boas, alegres, bonitas e positivas. Conseguem imaginar? Então se conseguem imaginar, conseguem concretizar!

A minha proposta é seguinte: peguem no jornal e escolham uma notícia boa, se a houver, ou uma má e transformem-na em boa. Se o jornal tiver um efeito depressivo, então o melhor é recorrer à imaginação e decidir o que quer que aconteça, quem sabe não se torna realidade? Pode ser sobre desporto, política, sociedade, cultura, economia, ambiente, tecnologia, enfim, o que quiserem. Depois, só têm que escrever o vosso texto em 77 palavras.

ATENÇÃO: no caso de se inspirarem numa notícia que de facto existe, não se esqueçam de acrescentar o link onde de pode ler a original, ok?

Aqui vos deixo um exemplo:

Conhecia de cor o cheiro dele e jamais esquecera o gosto dos seus lábios. De olhos fechados distinguia o toque das suas mãos e só havia uma coisa que desconhecia: o som dos seus beijos. Foi por isso que naquele dia, depois de muitas horas passadas em salas friamente desinfetadas, rodeada de gente de branco fúnebre, em que conseguiu viajar no tempo e ouvir o eco do primeiro beijo dentro de si, descobriu como soa o amor.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca




DESAFIO ESCRITIVA 29 - Transporte errado



Eu não tenho carro e ando pouco de  transportes públicos: "luxos" de viver numa cidade como Salamanca. O problema é que quando vou ao Porto, a Lisboa ou a Madrid, chego quase sempre atrasada aos encontros porque não controlo nem horários, nem linhas de coisa nenhum e não rara vez, entro no metro errado.

Enfim, é sobre isto mesmo que vos peço para escreverem: apanharam o autocarrro, metro, comboio errado. E agora?

O meu "erro" é este: 

Tratava-se de um jogo: tinham que apanhar o primeiro autocarro que passasse e sair duas paragens depois sem serem apanhados. Ases do despiste, vangloriavam-se disso com fotos nas redes sociais. Um dia, a coisa deu para o torto: havia tanta gente na paragem, que não conseguiram entrar os 3. Atrapalhado, o último apanhou o autocarrro seguinte, sem reparar no número. Não demorou muito a reparar no erro:

 - Filipe, o que é que fazes aqui?

 - Atrasei-me mãe, atrasei-me…

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 anos, Salamanca



DESAFIO ESCRITIVA 30 - GNU

Quem é que acha que maio é só o melhor mês do ano? É, não é? Claro, é o mês do meu aniversário e este ano cumpro 37! Ora bem, pensando em 37, em 77, dei por mim a fazer contas ao alfabeto e percebi que a letra número 7 é G, a número 14 é N e a número 21 é U. A "quadratura" do 7 é tão perfeita que os seus múltiplos formam a palavra GNU. E o que dá de si um GNU numa história...

Vejam só a minha e enviei as vossas:

 - Um gnu?

 - Sim, um gnu.  O que é que te parece estranho?

 - Quer dizer, tu achas mesmo que o que tu propões te parece possível?

 - Tu é que não és capaz de pensar em grande e achas sempre que é tudo muito difícil, complicado, impossível.

 - Hummm, lembraste do que aconteceu ao hipopótamo que adoptamos há uns dois anos?

 - Sim! Incompatibilizou-se com os vizinhos.

 - Incompatibilizou-se?! Comeu-os, ele comeu os vizinhos!

 - Puff, pormenores, estavam demasiado obesos, confundiu-os com bisontes!

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca



DESAFIO ESCRITIVA 31 - Nomes coletivos

Junho é mês de hordas de turistas que invadem tudo o que é rua ou ruela aqui em Salamanca e que me avisam de que já falta menos para as férias de verão. E falando de grupos, lembrei-me dos nomes coletivos e apeteceu-me propor-vos o seguinte desafio: escreverem o vosso texto usando 7 dos seguintes nomes coletivos:

Coro/turma/bando/alcateia/biblioteca/frota/exército/arquipélago/multidão/olival/pomar/sinfonía/quadrilha/rancho/casario/ júri/galeria.


Naquela TURMA cantavam todos tão bem, que a professora de música decidiu inscrevê-los no concurso de COROS do ARQUIPÉLAGO. Ao final do dia, lá vinham eles em BANDO para inundarem a BIBLIOTECA com alegres SINFONIAS. Assim foi até ao grande dia em que, tomados por uma súbita afonia coletiva, ao subirem ao palco foram incapazes de cantar uma só nota.

Para surpresa geral, o JÚRI declarou vencedor o silêncio harmonioso como a melodia mais afinada do concurso.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca







DESAFIO ESCRITIVA 32  - Histórias de terror

Eu sou pouco dada a histórias de terror, mas já um bom policial não me escapa. Aliás, no verão tenho que ter sempre algum para me fazer companhia nas viagens. E esse é o desafio: imaginem um crime cuja arma foi algo, aparentemente, bastante inofensivo. Pode ser um rebuçado, um envelope, uma escova dos dentes, pode ser o que vocês quiserem desde que pareça um "anjinho".

Eu escolhi esta arma para o meu crime, salvo seja!

O cenário estava preparado. A vítima completamente imobilizada e arma do crime empunhada. O procedimento era simples: acariciar as plantas dos pés até a vítima sucumbir de tanto rir, operação que não durou mais de 5 minutos.

Foi com alívio que o assassino confessou o seu crime, mas a sua sinceridade provocou sonoras gargalhadas:

 - Quer-me convencer que matou este homem fazendo-lhe cócegas?

 - Sim, senhor guarda, o meu pai sempre desejou morrer a rir e eu decidi ajudá-lo.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca





DESAFIO ESCRITIVA 35 - Varanda florida

Agosto, mês do verão por excelência e, para mim, das conversas nas escadas com as vizinhas. Sou de aldeia e é assim que se combate o calor: uma conversa à sombra. Talvez por isso é que eu gosto tanto deste quadro de José Malhoa.

E se criassemos diálogos ou monólogos em 77 palavras a partir desta “varanda florida”?

Vamos lá? Aqui vos deixo o meu exemplo:







Sabia que tinha nas mãos uma grande responsabilidade, mas tinha tantos sonhos na cabeça que parecia que a agulha os ía cosendo a eles, uns aos outros. Estava agradecida à tia por tê-la recebido sem fazer perguntas e no fundo, as primas, não eram más pessoas, gostavam da vida alheia, era só isso. Será que tinham visto o beijo da véspera? Será que suspeitavam da traição?

 - Ai! Piquei-me!

 - Ó rapariga, isso é castigo... por não estares concentrada.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca



ESCRITIVA 36: SETEMBRO - 2018 (PONTO)

Há palavras em português que nos dão pano para mangas e uma delas é a palavra “ponto”. Já viram quantos sentidos diferentes pode ter? E com quantas expressões distintas a podemos usar? Isto sim é que é riquieza e ponto final!

A proposta é essa, usar o mais possível a palavra ponto com diferentes sentidos num texto de 77 palavras.  Não comecem já à procura do ponto fraco deste desafio e leiam o meu exemplo:

Aquela família era um ponto: a mãe passava o dia a dar pontos a testas endiabradas, o pai a pôr os pontos nos is lá na esquadra, o filho, que não dava ponto sem nó, a cortar e a coser no atelier, onde a avó, mestra da costura era um excelente ponto de apoio. Até o avô, já reformado, não punha ponto final ao dia, sem picar o ponto no café do Nunes, às 8 em ponto.

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca



ESCRITIVA 37 – DIA EUROPEU DAS LÍNGUAS

Por iniciativa do Conselho da Europa, o Dia Europeu das Línguas celebra-se desde 2001, no dia 26 de setembro. Como professora de línguas o que eu vos proponho é usarem estrangeirismos, que fazem parte da língua portuguesa, para escreverm o vosso texto. Deixo-vos aqui uns quantos exemplos, mas podem usar outros, que vão encontrar no site http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=loanwords&act=list&letter=a: DJ, skate, surf, batom, atelier, basquetebol, alzheirmer, anorak, calzone, capuccino, collants, cumbia, diesel, flamenco, geisha, ginseng, gouda, kitchenette, origami, online, croissant, taekwondo, zapping.

 - Que rica vida: capuccino, croissant, sofá e comando para fazer zapping! Estou farto de tantas regras, horários, treinos e ordens do meu treinador de taekwondo. Estou a pensar mudar de vida: ser DJ, viver de noite, dormir até tarde ou dedicar-me à dança, que eu sempre tive jeito para o mambo e a cumbia.

 - Ó Tiago, isto são horas de estares aqui sem fazer nada?

 - Para mudar de vida, talvez tenha que começar por mudar de mãe!

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca



ESCRITIVA 38 –  NOVEMBRO – 2018 (MUDANÇAS DE CLIMA E MUDANÇAS DE LENDAS)

O verão de São Martinho é cada vez mais longo e intenso e eas águas a mil já não são em abril. Isto está cada vez mais imprevisível e eu penso no seguinte: como é que que vamos explicar determinadas lendas aos nossos descendentes se o tempo nos está sempre a pregar partidas? Acho que chegou a hora de reescrevermos a Lenda de São Martinho tendo em conta as alterações climáticas. Vamos a isso? Para o caso de não recordarem ou não conhecerem a lenda, reavivem a memória aqui: http://visao.sapo.pt/visaojunior/2016-11-11-A-Lenda-de-Sao-Martinho

Reza a lenda, que um jovem tripeiro chamado Martim, tentava regressar a casa, por entre magotes de estrangeiros, quando encontrou dois “bifes mal passados”* mortos de sede, que lhe pediram ajuda. O rapaz, que era muito prevenido, retirou da mochila uma garrafa de água, o creme para as queimaduras e um guarda-chuva (não fosse o diabo tecê-las!) que os turistas aceitaram de bom grado. Nesse momento, o sol deixou de os queimar e puderam voltar a passear!

*(turistas branquinhos queimados pelo sol)

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca



ESCRITIVA 39DEZEMBRO – 2018 (FELIZ NATAL)

Para vos desejar a todos um FELIZ NATAL, esta foi a melhor forma que encontrei: partilhar uma boa parte do que é esta época festiva na minha família. Espero pelas vossas felicitações em 77 palavras, seguindo o meu exemplo.

Quando...

Fazemos comida para muita gente,

Embrulhamos presentes em abraços para os mais queridos,

Limpamos e decoramos a casa,

Incluimos mais um prato para um convidado de última hora,

Zelamos para que ninguém se zangue e

Não deixamos que nada atrapalhe a

Alegria infinita que nos enche e nos faz cantar, desafinadamente,

Todos juntos, ao ritmo da harmónica herdada do

Avô, que traz consigo cheirinho a canela do

Leite creme, receita deixada pela avó,

Então é NATAL!

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca




DESAFIO 40 – ANO NOVO, VIDA NOVA E CAMINHOS ANTIGOS!

Ano novo, vida nova! E se o ano novo traz uma vida nova, também deve trazer caminhos novos que levem a essa vida, digo eu. Ora esse é que é o meu problema todos os anos: eu me oriento-me MESMO muito mal! E vocês, como é que se orientam com mapas? E sem eles? Usam GPS? Eu sim, para TUDO, até para ir do quarto até à cozinha. Sou assim, assumo a minha “desorientez”.

Por isso, pedia-vos que escrevessem orientações criativas. Como é que é isso? Sim, orientações para ir até à garagem às escuras quando se apaga a luz do prédio, orientações para chegarem ao coração de alguém querido, orientações para encontrarem a saída de um qualquer centro comercial ou parque de estacionamento, orientações para chegarem a esse conhecimento que vos faz tanta, mas tanta falta num determinado momento da vossa vida (como o nome daquela colega que acabam de encontrar e que não viam há mais de 20 anos). Aceitam o desafio? Então vamos lá!

Fecho o portão, dou dez passos sem pisar o risco, abro a porta o suficiente para passar sem acordar o cão, fecho a porta à chave, dou dois passos à direita, desço o degrau, tiro os sapatos e vou em linha reta apoiando-me na parede do lado esquerdo. Só faltavam dez passos par ao meu destino, quando o semáforo ficou vermelho:

- O que é isto, a chegar a casa às 6 da manhã?

Interceptada por excessiva vitalidade!

Paula Cristina Pessanha Isidoro, 37 anos, Salamanca


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