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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2016

Margarida Fonseca Santos - desafio 10

― Viste se deixei o coiso ao pé da coisa? Preciso dele para amanhã. ― Mãe, que coiso? ― Ai, vá lá, aquele coiso que trouxe, lembram-se? Até disseram coisas acerca dele. ― Eu também não sei o que é ― atreveu-se o mais novo. ― Bolas! Sabem!!! Acabam bem, estes fins de dia? Nem sempre. Perco o vocabulário por volta das sete, oito da noite. Definição de coiso? Ora, pode ser um livro, uma pasta, um vaso, qualquer coisa. Às oito da noite, tudo é coiso e ninguém me percebe. É obra! Margarida Fonseca Santos , 56 anos, Lisboa Escritiva nº 10   - definições criativas

Susana Santos - desafio 10

Tótil ― é uma palavra tipicamente tripeira e significa muito. Mas, apesar deste advérbio possuir sentido universal, a palavra utilizada para chegar até si varia. No Porto, os adolescentes que se orgulham de serem "gunas tripeiros" riem-se do "bué" dos "betinhos alfacinhas", que significa o mesmo que tótil. Uma palavra característica de uma localidade contribui para acentuar rivalidades regionais. Contudo, as barreiras hereditárias esbatem-se, pois os adultos que contactam permanentemente com adolescentes são contagiados pelos seus hábitos linguísticos. Susana Sofia Miranda Santos , 38 anos, Porto Escritiva nº 10   - definições criativas

Raquel Fidalgo Rodríguez - desafio 10

Ninchi é qualquer um e ninguém. Ninchi é o velho que toma o café com cheirinho no bar, o homem que vai, o que volta, o que erra, o menino que brinca na rua. Ninchi não tem idade. Ninchi mora em Fermoselle, nos Arribes do Douro. Ninchi é um vocativo provinciano e fofoqueiro: Ninchi, o que é que estás a tomar? Onde é que vais? De onde é que voltas? O que é que estás a fazer? Raquel Fidalgo Rodríguez, Salamanca Escritiva nº 10   - definições criativas

Mª Ángeles Gil Iglesias, Irene Canduela Pérez, Mamen Hernández Barroso, Pilar Peñalver Pumariño - desafio 10

As minhas amigas e eu decidimos fazer uma viagem pela costa Portuguesa. Estivemos na cidade de Faro e ali alugámos uma caravana para ir a Sagres, no trajeto tivemos que trocar a roda e quando abrimos a mala do carro demo-nos conta de que não tínhamos nem as nossas malas nem a roda, tivemos que andar até uma estação de serviço por um caminho de terra e um calor sufocante, quando chegamos o nosso aspeto era “zarrapastroso*”. Mª Ángeles Gil Iglesias, Irene Canduela Pérez, Mamen Hernández Barroso, Pilar Peñalver Pumariño, Salamanca * Que presenta un aspecto muy poco aseado, viste con ropa sucia, rota o vieja, o descuida el aseo y arreglo de sus cosas. Escritiva nº 10   - definições criativas

Ana Crespo Marcos - desafio 10

Elucidário ERAS - Uma versão da expressão égua, que significa uma forma de exclamação ÉGUA– Interjeição, Exclamação, usada para expressar seja alegria, raiva, surpresa, etc... PITIÚ – usa-se para expressa o cheiro próprio do peixe, do ovo BROCA – estar com fome, muita fome CHIBÉ – um tipo de comida feita apenas com açúcar, água e farinha de mandioca, sem ir ao fogo, apenas misturando. Típico dos Interiores do Pará DESPOMBALECIDO – fraco, com fome ESBANDALHAR – estragar, dar defeito BREU – Escuro CARAPANÃ – Nome dado ao pernilongo MORDIDO – chateado PANEMA – azarado  PERA mais PANEMA logo – uma expressão que serve para superlativar algo AGASALHAR – se proteger BEIRA – lugar onde se proteger, abrigo DESCONFORME – exageradamente GOROROBA – mistura de comidas, sobras CUÍ – a parte mais fina da farinha de mandioca, e pouca quantidade DISQUE - quer dizer, parece TORÓ – chuva forte que cai no Pará intensa e rápida ACOCAR – abaixar sem sentar no chão

Roseane Ferreira - desafio 10

Da ilharga do Pará ERAS do PITIÚ! Mas estou com uma BROCA, só tomei CHIBÉ cedo e fico DESPOMBALECIDO. ÉGUA, o carro ESBANDALHOU bem nesse BREU, logo vai cair CARAPANÃ, e vou ficar MORDIDO. PERA, mais PANEMA logo! Vou já me AGASALHAR nessa BEIRA. Eu tô DESCONFORME com fome, qualquer GOROROBA entra, basta um CUÍ de farinha. DISQUE vai cair um TORÓ, vou ACOCAR aqui. Ali na ILHARGA tem uma CABOCA OVADA, mais ACESA logo! Mana, deixa de PAVULAGEM, Parece LESA! Roseane Ferreira, Estado do Amapá, Macapá, Extremo Norte do Brasil Escritiva nº 10   - definições criativas

Maria José Castro - desafio 10

Uma mulher insuportável A mulher era uma doninha fedorenta: modos miudinhos, elétricos, afetados e cínicos. O fedor vinha-lhe das maneiras e não do odor: um rasto de perfume caro mas absurdamente incomodativo, que se nos colava ao cérebro. Passava os dedos sobre os móveis alheios para avaliar a quantidade de pó; falava connosco perscrutando-nos, com olhos “postiços” de eyeliner. Observava-nos os sapatos, o cair da saia, a qualidade do algodão. Sempre perfeita: tudo que era seu era ideal. Uma “cenisga”. Maria José Castro , 56 anos, Azeitão Escritiva nº 10   - definições criativas

Ana Paula Oliveira - desafio 10

Era uma aluna brilhante, a melhor da turma. Maria de Fátima gaspeava sonhos, mas o regime de ditadura rapidamente os descosia. E não adiantou o brilhantismo do exame da quarta classe. As suas mãozinhas infantis eram necessárias para fazer entrar o dinheiro que escasseava em casa. A escola só comportava gastos. E foi assim que se empregou numa fábrica de sapatos onde tem arrastado toda a sua vida. É   gaspeadeira. Gaspeia   o calçado, já não os sonhos. Gáspea: parte dianteira do rosto do calçado que cobre o pé, e é cosida, à maneira de remendo, à parte posterior. Gaspeadeira: operária que deita gáspeas em calçado Ana Paula Oliveira , 55 anos, S. João da Madeira Escritiva nº 10   - definições criativas

Carla Silva - desafio 10

Ah?! – Depois de tudo pentado, vens jogar à bola? Achas que tem careio? Rui, o meu filho de cinco anos, olhava a avó de boca aberta.  Pela sua cara vi que não percebeu. Eu própria fiz uma viagem ao passado para lembrar uma linguagem que já ninguém fala. Os anos passaram e as expressões da aldeia perderam-se. Além da minha avó poucos mais restam para pentar em vez de pintar ou a dizer careio para substituir algum jeito! Carla Silva , 42 anos, Barbacena, Elvas Escritiva nº 10   - definições criativas

Alda Gonçalves - desafio 10

MENTOR - PADRINHO CANTOR - ARTISTA CANTORIA - MUSICA CONTORCER-SE - DOR CONTORNAR - DESVIAR ENTORPECER - MOLE CONTORNOS - PONTAS Saruga: espinha de peixe. Os barbos do rio que o pescador, apanhava lá em baixo junto aos moinhos, e vendia ao portão das quintas, entre vinhedos e encostas de xisto lascado. A avó ao fim do dia queimava as vides em grandes labaredas de calor e na grande sertã de ferro preto, fritava postas de peixe. Por cima, regava com uma cebolada agridoce deixando um molho grosso, onde ensopávamos fatias de pão caseiro. Tira as sarugas, menina! Alda Goncalves , 48, Porto   Escritiva nº 10   - definições criativas

Rosélia Palminha - desafio 10

Na minha aldeia era assim Jerolme, meu afilhado, esmifrava-me a pachorra. Moço galdério. Gostava de judiar. Mal eu punha ao lume a chocolateira, já me tinha agachado os enxalmos e a rodilha. Buia o café, pegava no brandeiro, ia chapada abaixo, mas não para a escola. Ia aos ninhos, às boletas, engalfanhado com os demais. Num dia de grande buzaranha, subiu ao píncaro dum ecalitro. Caiu! Danado, foi ao pial, partiu a infusa, escondeu-me a sogra. Hoje é um homem de bem. Jerolme – Jerónimo judiar – pregar partidas agachado – escondido enxalmos – pegas rodilha – trapo velho para limpar a loiça ou o pó pial – poial alto onde se colocavam as bilhas da água (infusas) sogra – espécie de argola feita em tecido utilizada para segurar na cabeça as bilhas da água Rosélia Palminha , 68 anos, Pinhal Novo Escritiva nº 10   - definições criativas

Amélia Meireles - desafio 10

“Freiras”, uma designação que nos transporta para recolhimento, oração. Nem sempre é assim. Há lugares onde se comem as freiras. Mergulhados os grãos de milho no óleo fervente, eis que rebentam mostrando o seu interior alvo que fazem as delícias de tantos. Com açúcar ou com sal, as freiras deleitam todos quantos as não dispensam. Sim, deste lado do atlântico, onde a fé do povo se mostra, compramos e comemos as freiras! Não acreditam? Venham aos Açores! Amélia Meireles , 63 anos, Ponta Delgada Escritiva nº 10   - definições criativas

Paula Coelho Pais - desafio 10

"Cocho”  Visitava a minha amiga. Gostava de lá estar, perto das raízes maternas que eram as dela também. Tarde quente e tanto para estudar. Sede, muita. Que fosse lá dentro, que estivesse à vontade. Na cozinha, junto à torneira, a grande colher de cortiça calava histórias de pastores e ceifeiras. O tarro e o cocho. O pão e a água. Peguei nele com cuidados de velho pergaminho e a água que bebi foi também a da minha história. Paula Coelho Pais , Lisboa, 55 anos "cocho" – colher de cortiça do Alentejo Escritiva nº 10   - definições criativas

Theo De Bakkere - desafio 10

Corrucho - Porco Gravetos - Troncos finos para ajudar a atear a fogueira Caldeiro – Recipiente para comida dos porcos Alicrairo - Lacrau Pastorinha – Louva-a-Deus Esterco – estrume composto por mato em decomposição por ação da urina e fezes dos animais. Estrada de Santiago – Via Láctea Trempes - Objeto de ferro assente sobre três pés, onde se colocam as panelas na lareira Ainda noite, levantou-se e, olhando para o céu, aqui longe da poluição luminosa, viu outra vez a   estrada de Santiago. Essa menina urbana gostava de ajudar durante as férias estivais na granja. Zelosamente já tinha posto alguns   gravetos   entre o   trempes   para acender o lume sob o   caldeiro, onde se cozinhava a lavagem dos   corruchos. Adorava o campo, o cheiro do feno, mesmo o   esterco   malcheiroso não a perturbou. Só detestara   alicrairos   e aquelas saltitantes   pastorinhas verdes. Theo De Bakkere , 63 anos, Antuérpia, Bélgica Escritiva nº 10   - definições criativas

Natalina Marques - desafio 10

Mãe, que é o jantar? – Ceia, aqui na aldeia, é ceia. Então que vai ser a "ceia"? – COUBES com XÍXAROS. A minha filha que não conhecia tal coisa, deu uma gargalhada, perguntando o significado da ementa, (que para mim era um manjar). Respondi: – Feijão frade, cozido com couves, cortadas em caldo verde. – Bolas, ontem foi a história dos "MOLETES" hoje essa coisa de "XÍXAROS". Além de teres nascido no fim do mundo, ainda por cima fala-se estrangeiro. Natalina Marques , 57 anos, Palmela Nota: «moletes» são os normais papos-secos. Escritiva nº 10   - definições criativas

Quita Miguel - desafio 10

Escafeder-se Escafeder-se : Pirar-se, dar de frosques, rumar para lá das vistas, sumir, desaparecer, virar as costas e deixar tudo para trás, ir-se embora, fugir. Verbo que se conjuga a partir das entranhas e resume aquele sentimento que nos invade quando vemos aproximar o indesejado, o melga, o chato, o falso, o cínico, enfim, aquele que era bom que se escafedesse. Por vezes, é tudo o que precisamos para dar sentido a um dia que nem merecia tal nome. Quita Miguel , 56 anos, Cascais Escritiva nº 10   - definições criativas

Rita - desafio 10

Capié – máquina de bombear sangue, no corpo humano. Responsável por enviar sangue arterial, carregadinho de oxigénio, aos órgãos e tecidos, e enviar, até aos pulmões, sangue venoso, que transporta o dióxido de carbono resultante da respiração celular. Também designa a fabulosa máquina de amar dos humanos e animais. Capaz de se apaixonar perdidamente por outro semelhante e de levar o seu dono a cometer feitos heróicos ou, apenas, loucuras. Palavra inventada pelo Lourenço, menino do meu Capié. Rita , 40 anos, Lisboa Escritiva nº 10   - definições criativas

Desafio nº 10 - definições criativas

“O coiso, aquilo que eu usei quando precisava de fazer aquela cena complicada que a coisa não sabia fazer? Não me digas que não sabes o que é?”  Pois não, nem ninguém tem obrigação de me entender quando eu falo assim simplesmente porque sou incapaz de me lembrar como se diz uma palavra numa ou noutra língua. Alguma vez vos aconteceu? Têm definições próprias para coisas do quotidiano, com nomes engraçados que só se usem na vossa zona, cidade, aldeia que nos queira contar? Vamos lá botar faladura   (a Paula é do norte, claro...). Chaspa : recipiente resistente ao fogo e ao gelo, no qual se cozinham indistintamente sopas de amor de avó, cozido de sogra invejosa ou papas de vizinhas “ensarrabulhadas”. Tem garantia vitalícia, mas não evita que a comida se pegue, nem que o cheiro se impregne nas paredes da casa e do coração. Deve ser lavado de preferência com um esfregão que arranhe bem e que deixe o fundo a brilhar, pois não tolera delicadezas, nem máquinas de lavar. Paula Crist