Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2018

Aythami Miranda Moreno, - desafio 35

Quando estava a olhar para a aldeia, ali sentada, lembrei-me de todas as férias que passei naquelas ruas brincando com os meus amigos e de como era a vida ali. Gostava de passar o tempo contemplando o que me pareciam gigantes enterrados no chão. Então a vida era como um jogo, mas agora que foge das minhas mãos, experimento o que é o desespero: a doença corrompeu-me e não fiz nada. É este o meu destino. Aythami Miranda Moreno, 25 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

María Santiago Peralvo - desafio 35

De tarde, quando a luz do sol iluminava os olhos, gostava de sair e deixar voar a minha imaginação. O som do mar e o murmúrio dos vizinhos de sempre sossegavam-me.  Era assim como sonhava acordada: barcos voadores, grandes pássaros exóticos de centos de milhares de cores que poderiam adormecer uma aldeia inteira com a música deles... Mas o que mais frequentemente passava pela minha mente eram sentimentos que dançavam como um trovador dum antigo castelo medieval. María Santiago Peralvo, 23 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

Isidro Alcalá Cabaña - desafio 35

Com o bom tempo, a gente sai de casa. Eu estava sentada nas escadas, pelas quais se desce até uma pequena praia da aldeia. Ao meu lado, estavam umas senhoras muito idosas e conhecidas por ficarem todo o dia a criticar toda a gente que passa por ali. Agora, elas estão a falar da Pedra, uma rapariga que teve um bebé sem se conhecer quem era o pai.  Mas elas só criticam a mãe, não o pai. Isidro Alcalá Cabaña, 18 anos, Montijo (Badajoz) Escritiva nº 35  – varanda florida

Marcos Montes Rodríguez - desafio 35

Os dias são mais leves desde que os homens saíram da cidade em busca da lua. Agora tudo é cor, fruta, tomar banhos no rio e passar as tardes sentadas na entrada da casa, esperando que as vizinhas venham e falem sobre o seu dia. A minha mãe está ensinando-me a costurar. Ela diz que é importante saber esse tipo de coisas úteis, mas eu não presto muita atenção, prefiro falar com a tia. Tudo está calmo. Marcos Montes Rodríguez, 19 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

Elena Pereira Romero - desafio 35

Nesta aldeia nunca acontece nada, não há emoção nenhuma. Estas dois mulheres passam o dia inteiro a falar sobre a vida dos demais, e o mais emocionante que acontece é o que elas inventam. Talvez algum dia suceda alguma coisa, como... o início do apocalipse zombie! Mas não, aqui só há velhas, seriam os zombies menos temíveis da história. Talvez uma invasão extraterrestre, com naves e pistolas laser e tudo. Provavelmente os alienígenas fugiriam aborrecidos da aldeia... Elena Pereira Romero, 18 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

Sarah Rodríguez - desafio 35

A Lúcia disse agora que dava gosto ver as vagens crescer. E que ao cozer ficavam suaves e sem fios. Este ano não plantei vagens. O meu sobrinho, o António, foi trabalhar lá pra Lisboa. E trouxe-me sementes ecológicas. Ele tem um jardim com plantas biológicas no terraço e diz que as sementes dessas plantas são mais saudáveis e mais saborosas. Já cresceu a primeira courgette.  Ainda não provei, mas a courgette cheira bem; cheira a Lisboa. Sarah Rodríguez, 22 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

Daniel de la Fuente Martín - desafio 35

Já sabia que a cidade e os invernos não eram para mim. Eu passava o inverno à espera da chegada do verão para ir à minha aldeia. Lá, esperavam-me a minha avó e o meu avô. O meu avô gostava muito de me contar e representar contos à sombra da casa enquanto a minha avó cosia tecidos que o meu avô e eu usávamos para representar os contos. Essas são as lembranças mais felizes da minha vida. Daniel de la Fuente Martín, 20 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

Cristina Riesco Sánchez - desafio 35

-Peço desculpa tia, estava tão concentrada nos meus pensamentos que me esqueci por um momento do que estava a fazer.   -Não te preocupes minha filha, continua com as tuas tarefas, mas logo à noite, a tia tem que falar contigo sobre uma coisa que a prima Margarida me veio contar. Acho que ela reparou logo no terror da minha cara, agora tinha a certeza:   ela sabia do beijo da véspera. O que hei de fazer? Deus, ajuda-me! Cristina Riesco Sánchez, 23 anos, Mérida Escritiva nº 35  – varanda florida

Elvira Estévez Flores - desafio 35

-Ui! Nã o sabes quem conheci no outro dia. -Eu sei lá! -Conheci o namorado do José, o filho da Elsa Rodrigues. Ela é professora na escola. -Namorado? E como é que tu sabes isso? -Sei porque a minha filha é amiga da sua irm ã. -A m ã e é um pouco tradicional, não é? -É, sim, mas a minha filha diz que ela aceitou tudo e, além disso, trata o namorado como se fosse seu filho. -Vê lá tu! Elvira Estévez Flores, 19 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

Lucía Morante Parada - desafio 35

A perfeição existe? O que é a perfeição? As pessoas definem-me como não cometer nenhum erro, mas não estou de acordo com elas, acho que a perfeição é ser feliz. Mas agora que eu estou a pensar, o que é a felicidade? Por que é que não há apenas uma definição desta? Para mim, felicidade é cheirar os aromas das flores na primavera, estar nessa mesa redonda do parque com a minha família a rir e aproveitar... Lucía Morante Parada, 18 anos, Salamanca Escritiva nº 35  – varanda florida

Carla Silva - desafio 35

A varanda  Ao avistar a varanda outrora florida, agora coberta por uma trepadeira, recordou as conversas ali mantidas com a avó, e uma lágrima deslizou pelo rosto.  Após um período conturbado, regressara na esperança de sarar feridas, de encontrar alguma da tranquilidade perdida. Mas tudo mudara, até o seu porto de abrigo. Apenas a avó continuava igual a si mesma. Como tal, envolvera-a num abraço apertado enquanto lhe sussurrava: ― Tem fé. Nada dura para sempre. Nem mesmo a dor.  Carla Silva , 44 anos, Barbacena, Elvas Escritiva nº 35  – varanda florida

Elisabeth Oliveira Janeiro - desafio 35

Da Natureza das Coisas A postura sugeria a proa dum navio enfrentando as penedias, numa braveza de leoa, altiva e convincente. Muito ao longe, uma fímbria aquífera pontuava o horizonte ilimitado... Ornada de vasos floridos e primaveril garridice, a varanda da casa senhorial era o salão da convivialidade: repousos, meditações, conciliábulos. E como nas estórias das casas com alma, consta que foi ali que se redimiram desavenças. Houve festa, e os colunelos do varandim ganharam nova pintura para celebrar o feito. Elisabeth Oliveira Janeiro , 73 anos, Lisboa Escritiva nº 35  – varanda florida

Ana Paula Oliveira - desafio 35

― Como é bom oferecer este calor, o cheiro a natureza, a orquestra de cigarras. ― Fazemos abrir as janelas para as varandas floridas onde as vizinhas se encontram para filosofarem sobre a vida. Dispensam os relógios e prolongam o tempo e as conversas. ― Pois! Fazemos com que haja tempo para todos terem tempo! ― Esta indolência, este silêncio, esta paz… Nada que se equipare! Só nós temos este poder! Nem todos entenderão estas conversas silenciosas das noites de verão. Ana Paula Oliveira , 58 anos, S. João da Madeira Escritiva nº 35  – varanda florida

Filomena Galvão - desafio 35

Naquela aldeia havia uma casa que se distinguia das demais. A Ti Hermínia estava sempre à janela a ver quem passava e a sua varanda estava repleta de flores. Ela tinha mobilidade reduzida devido a um acidente e por isso quase nunca saía. Entretinha-se a ver quem subia ou descia a rua, dava dois dedos de conversa e cuidava das flores. O mais peculiar eram os penicos de esmalte azul que enfeitavam com sardinheiras esta varanda florida. Filomena Galvão , 57 anos, Corroios Escritiva nº 35  – varanda florida

Elsa Alves - desafio 35

Fazia sempre o caminho para o trabalho por aquela rua. Levantava os olhos para a varanda florida. Vasos de sardinheiras alinhavam-se, numa explosão de vermelhos. Pareciam desejar-lhe bom-dia. Educado, ele retribuía a saudação. Quem moraria naquela casa? Não sabia. Nunca lá vira ninguém. Imaginava uma qualquer Joaninha, de olhos verdes, debruçada sobre as flores. Talvez um dia a visse... Uma manhã as flores tinham desaparecido. Nunca soube porquê. Passou a ir para o trabalho por outra rua.  Elsa Alves , 70 anos, Vila Franca de Xira Escritiva nº 35  – varanda florida

Alda Gonçalves - desafio 35

Conversa à varanda Numa noite de verão de céu pintado de estrelas e lua branca, juntam-se na varanda três gerações. Dos canteiros sobem os cheiros da terra entre o aroma do jasmim e da erva cidreira. O tagarelar intensifica-se quando abordam universo e fé de cada um: — Se pensarmos que Deus é um homem nunca acreditamos, dizia o avô; — Deus é amor, concluiu a neta. A tia, solteira, mais viajada que airbus da TAP, abanava a cabeça, enquanto murmurava: — Crendices! Alda Gonçalves , 50 anos, Porto Escritiva nº 35  – varanda florida

Helena Rosinha - desafio 35

Ignoram-me. Sentam-se à parte, falam baixinho entre si, riem, saúdam  quem passa, dizem banalidades... Gostava que conversassem comigo, que partilhassem as suas experiências, falassem de livros, dos filmes que vêem, dos passeios que fazem. Por companhia, tenho o rádio de pilhas, somos inseparáveis; de dia, ou de noite, quando a solidão mais magoa, vale-me a sua presença. E também tenho as flores da varanda, que acaricio, que me escutam com atenção. Preciso de pouco para ser feliz. Helena Rosinha , 65 anos, Vila Franca de Xira Escritiva nº 35  – varanda florida

Theo De Bakkere - desafio 35

O aquecimento mundial Nocauteado pelo calor escaldante, ninguém estava capaz de fazer alguma atividade, mesmo na sombra da tília ao pé da varanda ninguém falava, demasiado cansativo. Apenas meu tio tentou animar a gente para conversarmos com sua teoria absurda, que o aquecimento mundial, segundo ele e um tal Donald, não é criado pelo homem. Somente a minha tia sonolenta reagiu. ― Ó marido, esteja calado! A única contribuição positiva do homem para ecologia, é quando está soterrado sob o gramado. Theo De Bakkere , 66 anos, Antuérpia, Bélgica Escritiva nº 35  – varanda florida

Natalina Marques - desafio 35

Minha mãe tricotava, outra vizinha costurava, o marido, barbeiro, fazia também os fatos aos homens da aldeia. Lembro com saudade, uma dessas tardes, o meu irmão (desenhava belíssimamente) desafiou uma menininha (por acaso nossa priminha) para fazer-lhe o retrato. Muito orgulhosa de si, fez pose para o retrato, mas o que viu foi uma bela égua...! (Verdade se diga, muito bem desenhada.) Ela é não achou piada nenhuma à brincadeira, mas ainda hoje nos divertimos com ela. Natalina Marques,  59 anos, Palmela Escritiva nº 35  – varanda florida

Isabel Lopo - desafio 35

Parece entretida a bordar, mas não está. Apenas vai cosendo os seus sonhos naquele bocado de linho velho. Também não ouve a conversa da amiga, nem da criança tagarela que atira palavras ao ar. O mar, esse parece-lhe cada vez mais distante. A esperança de o ver chegar desaparece quando a sombra bate nas flores coloridas da varanda. Agora sabe que ele não virá. Resta-lhe remendar o coração com os pontos que foi dando no trapo amarrotado. Isabel Lopo , Lisboa Escritiva nº 35  – varanda florida

Maria Loureiro - desafio 35

Tempos meninos ― Olha aquela varanda! Tantas flores! ― Linda. Lembra-me a tua com a sombra das duas buganvílias entrelaçadas, flores roxas e vermelhas. ― Se me lembro! Refugiávamo-nos lá quando fazíamos malandrices. ― No cantinho, atrás dos vasos com alegrias da casa. ― Onde ficávamos montes de tempo a rebentar as cápsulas das sementes. Aquele som, poc, poc… ― Ah, ah! E quando a tua mãe nos apanhou a falar de namorados? ― Fomos a correr à Sé rezar para ela não contar à minha… Maria Loureiro , 63 anos, Lisboa Escritiva nº 35  – varanda florida

Chica - desafio 35

Essas crianças ― Mamãe, por que paramos aqui? ― Ora, o calor está muito forte e precisamos descansar. Tua tia, carrega João ao colo e ele já pesa nos braços. ― E a cesta no chão? ― Isa, estás muito curiosa! Mas te digo: Descansamos, ela amamenta e mostra o artesanato que faz para vender. Essa escadaria leva ao mosteiro. Vários turistas passam, talvez algum deles se interesse! ― Tomara, mamãe! Se ela vender, teremos dinheiro! Podemos ir ao parque e na roda gigante! Chica, 69 anos Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil Escritiva nº 35  – varanda florida

Margarida Leite - desafio 35

Linhas Cruzadas Luisinha procurava bordar o presente com linhas coloridas, já que o seu coração estava negro como carvão. ― Já te disse que o vi a conversar com a Ana, coladinhos um ao outro. ― Ó rapariga, tem juízo! Lá porque estavam a conversar não quer dizer que ele esteja apaixonado por ela! ― Tá bem! Que eu não vi aqueles olhinhos… eram mel!!! ― Parem com isso. Preciso de me concentrar… Calaram-se. Sabiam que ouvir falar no Miguel estilhaçava-lhe o coração. Margarida Leite , 49 anos, Cucujães Escritiva nº 35  – varanda florida

Paula Castanheira - desafio 35

Em certo prédio da Porcalhota, raro era o dia em que não rebentava discussão de criar bicho! Prendadas donas de casa cuidavam das casas, dos filhos… e das vidas alheias. Engalfinhavam-se miúdos, esgatanhavam-se mães, atiçavam-se gatos e cães! No tradicional concurso da varanda mais florida da primavera, os ânimos subiam mais que o termómetro, e vaso que era vaso, acabava num qualquer incauto cocuruto. Cabeças rachadas, matracas fechadas, terminavam todos a marchar direitinhos à esquadra do bairro! Paula Castanheira,  54 anos, São Pedro do Estoril Escritiva nº 35  – varanda florida

Desafio nº 35 - Varanda florida

Agosto, mês do verão por excelência e, para mim, das conversas nas escadas com as vizinhas. Sou de aldeia e é assim que se combate o calor: uma conversa à sombra. Talvez por isso é que eu gosto tanto deste quadro de José Malhoa. E se criássemos diálogos ou monólogos em 77 palavras a partir desta “varanda florida”? Vamos lá? Aqui vos deixo o meu exemplo: Sabia que tinha nas mãos uma grande responsabilidade, mas tinha tantos sonhos na cabeça que parecia que a agulha os ia cosendo a eles, uns aos outros. Estava agradecida à tia por tê-la recebido sem fazer perguntas e no fundo, as primas, não eram más pessoas, gostavam da vida alheia, era só isso. Será que tinham visto o beijo da véspera? Será que suspeitavam da traição? ― Ai! Piquei-me! ― Ó rapariga, isso é castigo... por não estares concentrada. Paula Cristina Pessanha Isidoro , 37 anos, Salamanca Escritiva nº 35 – varanda florida