Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2017

Cláudia Fernández Cores - desafio 27

Há muitos cheiros diferentes no mundo, mas há um em especial do qual gosto. É estranho porque não é comida. Às vezes há coisas praticamente indescritíveis, mas posso tentar explicá-lo: imagine uma tarde fria, céu nublado e silêncio. Então, passe as portas do cemitério e respire. Não é o cheiro a morto, não é o cheiro do crematório, também não é de flores mortas ou vela, nem o cheiro da terra; é o cheiro da pedra escura. Cláudia Fernández Cores , 19 anos, Salamanca , USAL, prof Paula Isidoro Escritiva nº 27  – cheiros

José Cáceres - desafio 27

A sua mãe acendeu um pauzinho de incenso. De repente, sentiu como se viajasse no tempo e se envolvesse na lembrança, como se apanhasse de novo o avião e abandonasse a casa para deixar para trás a complicada vida ocidental. Um simples pauzinho que serviu para fazer uma viagem de mais de oito mil quilómetros. Recordando as montanhas e o deserto, os prédios vermelhos com tetos dourados, mais o sol no horizonte. Estava, de novo, em Lassa. José Cáceres , 19 anos, Cáceres, USAL, prof Paula Isidoro Escritiva nº 27  – cheiros

Fátima Caletrio Karcha - desafio 27

“Poucas pessoas conhecem o cheiro da ‘henna’, um cheiro inexplicável que me produz nostalgia. É uma mistura de natureza e amor. Eu ponho henna no meu cabelo para dar cor e também nas minhas mãos em forma de tatuagem e durmo sempre com as mãos no nariz porque gosto desse cheiro. Esse cheiro lembra-me principalmente a minha mãe e a sua cultura. Também tenho outro cheiro mágico, é o cheiro que fica no ambiente depois de chover.” Fátima Caletrio Karcha , 19 anos, Salamanca , USAL, prof Paula Isidoro Escritiva nº 27  – cheiros

Maria do Céu Ferreira - desafio 27

Água na boca Recordo com nostalgia Alguns cheirinhos antigos, Sinto, ainda, essa magia, Esse apelo dos sentidos… As peras grandes de mais, Postas a amadurecer Em caixas de cereais, Para mais tarde comer; O cheirinho das maçãs, Tão perfeitas e rosadas, Bonitas que nem romãs, E uvas dependuradas; Aquela maravilhosa, Saborosa marmelada E a geleia cheirosa, Vermelhinha… delicada; Esse recheio odorante Fazia ornamentação, Tornando estimulante Aquele grande salão. Abelhas em contradanças Perseguiam o odor… Traquinices de crianças Partilhavam o sabor.  Maria do Céu Ferreira , 62 anos, Amarante Escritiva nº 27  – cheiros

Iván del Rey Castillo - desafio 27

Às vezes podia parecer um sentimento triste, mas para ele a saudade era agradável, graças a ela lembra-se que mesmo nos dias cinzentos pode encontrar-se um bocadinho de luz. Também se lembra que a água traz vida quando se junta com a terra e que nas poças pode ver-se refletido o céu. A chuva a bater na cara traz-lhe paz e lembra-lhe que debaixo da água consegue ouvir o silêncio. O cheiro de terra molhada é indescritível. Iván del Rey Castillo , 19 anos , Salamanca, USAL, prof Paula Isidoro Escritiva nº 27  – cheiros

Alicia Pérez Vicente - desafio 27

Eu acordei às nove da manhã e senti um cheiro mais do que familiar: chocolate quente. A minha mãe fazia sempre chocolate quente no dia dos Reis Magos e depois abríamos os presentes; essa era uma das minhas tradições preferidas. Mas esta manhã eu não me encontrava bem; eu senti uma forte dor de cabeça e eu caí da cama. Compreendi então, que tudo tinha sido un sonho e que não havia chocolate quente nem cheiro algum. Alicia Pérez Vicente, 19 anos, Salamanca, USAL, prof Paula Isidoro Escritiva nº 27  – cheiros

Álvaro Aparicio - desafio 27

Não ver assusta; ninguém quer perder o tacto; seria horrível deixar de ouvir e comer sem gosto é uma tragédia. Assim, ao parecer, cheirar é o luxo dos sentidos. Na verdade, os cheiros estão subvalorizados: o cheiro do mar para lembrar os verões, o cheiro da sopa que recorda a minha avó, o cheiro da gasolina para lembrar a minha primeira viagem, nos tempos nos quais a minha família viajava toda junta pela costa do mar Mediterrâneo. Álvaro Aparicio, 24 anos, Salamanca, USAL, prof Paula Isidoro Escritiva nº 27  – cheiros

Eleanor Stone - desafio 27

O cheiro de velas e laranjas lembram-me a minha infância. Cada ano, na véspera de Natal voltávamos à cidade onde costumávamos viver. Comíamos tortas com recheio de manteiga e frutas picadas antes de ir à igreja. A igreja fazia um serviço religioso que se chamava “Christingle”. Neste serviço davam a todos os meninos uma vela dentro duma laranja com pequenos doces em palitos de cocktail. Quando cheiro velas e laranjas penso nisso e sei que é Natal! Eleanor Stone, 20 anos, Salamanca, USAL, prof Paula Isidoro Escritiva nº 27  – cheiros

Natalina Marques - desafio 27

Estávamos sentados à volta da lareira, a ceia cheirava que regalava. Nada de especial, feijões com couves e alheira assada. Repentinamente, alguém se lembrou de fazer partilhas, e cada um escolheu a sua parte. Estávamos tão absorvidos, que não demos pela presença do nosso pai, que se apercebera do assunto. (Mau, mau Maria, esta conversa não me está a cheirar nada bem.) O nosso sobressalto, fez arrancar uma gargalhada à nossa mãe!!! Coisa que era tão rara. Natalina Marques , 58 anos, Palmela Escritiva nº 27  – cheiros

Carla Silva - desafio 27

Recordações A brisa traz até mim o cheiro que tanto gosto, que tantas recordações me traz. E por momentos regresso ao passado, quando caminhavas a meu lado segurando a minha mão. Fecho os olhos e permito-me aproveitar a viagem. A vele acácia ainda permanece no meio do jardim projetando sombra sobre o banco de madeira onde passávamos as tardes. Abro os olhos perguntando-me porque não regressas como regressa o cheiro a terra molhada quando caem as primeiras chuvas?! Carla Silva , 44 anos, Barbacena, Elvas Escritiva nº 27  – cheiros

Ana Paula Oliveira - desafio 27

Luísa é atraiçoada pela memória cada dia que passa. Não reconhece a família que se junta para celebrar o Natal. Cada um vai recordando Natais passados na esperança de lhe acender um fiozinho de luz que lhe ilumine a escuridão em que vive. Hoje, entrou na sala e o milagre aconteceu. Os cheiros combinados da lenha cortada, do pinheiro natural, do vinho adoçado com mel, do queijo serrano, da canela nos doces despertaram-lhe um sorriso, trouxeram-lhe vida. Ana Paula Oliveira , 57 anos, S. João da Madeira Escritiva nº 27  – cheiros

Helena Rosinha - desafio 27

Há dias, numa tarde soalheira, estando a porta do terraço aberta, um certo odor, insinuando-se, transportou-me ao tempo de infância. Revisitei os tempos em que a minha irmã e as amigas se deliciavam cozinhando num mini fogareiro de barro. Na panela de alumínio coziam batatas e cenouras arrancadas da horta da avó, adicionando-lhe hortelã, que originava um cheiro tão característico. A brincadeira durava até que eu, birrenta, acordada da sesta, punha fim à harmonia e cumplicidades gastronómicas. Helena Rosinha , 65 anos, Vila Franca de Xira Escritiva nº 27  – cheiros

Isabel Lopo - desafio 27

Chegou na véspera de Natal. Quis voltar à casa dos Avós, agora vazia. Percorreu as divisões cheias de memórias, mas foi na cozinha que reviveu todos os cheiros das consoadas: os perfumes dos molhos, os aromas dos doces caramelizados, o pão quente mal saído do forno... Fechou os olhos, deixando-se envolver naquele ambiente mágico... Quando o acordaram, saiu reconfortado pois soube que aquele Natal seria diferente. Apesar das saudades, levava consigo todos os cheiros gravados no coração. Isabel Lopo , 71 anos, Lisboa Escritiva nº 27  – cheiros

Amália da Mata e Silva - desafio 27

Oh mana Edite, o cheiro a canela é o que me traz melhores recordações da nossa infância no Monte das Oliveiras, lembras-te? Quando havia um acontecimento importante lá em casa, mesmo antes de sabermos a novidade, lá vinha aquele cheirinho bom a anunciar... E não eram só acontecimentos felizes que traziam o cheiro bom da canela porque me lembro que no dia do funeral do avô António também cheirou. Mas, é sempre um cheiro de boas recordações! Amália da Mata e Silva , 62 anos, Vila Franca de Xira Escritiva nº 27  – cheiros

Theo De Bakkere - desafio 27

Cheira bem Adoro tomar o pequeno-almoço numa pastelaria lisboeta, ali cheira deliciosamente a pãezinhos moles e café torrado. Todavia, não só o aroma de café me deixou cair na tentação, mas também aqueles bolos odorantes que estavam expostos ao lado uns dos outros na montra do balcão. De costume tomarei um croissant barrado com manteiga de sabor perfumado açoriano e uma bica que, muito apreciada por um guloso delicado como eu próprio, posso aromatizar com um pauzinho de canela. Theo De Bakkere , 65 anos, Antuérpia Bélgica Escritiva nº 27  – cheiros

Quita Miguel - desafio 27

Filhós de Natal Escondo a falta que me fazes, apesar das ideias pré-concebidas, que guiavam a minha vida e me faziam afastar de ti. O cheiro que chega da cozinha faz-me retroceder à infância. Como gostava de ajudar a preparar a calda de açúcar para mergulhar as filhós e, em seguida, as regar quando já estavam no alguidar de barro que tinha sempre lugar marcado na sala. Tu, bem mais gulosa do que eu, deliciavas-te com os restos no alguidar. Quita Miguel , 58 anos, Cascais Escritiva nº 27  – cheiros

Fernando Guerreiro - desafio 27

A resina gotejava lentamente das pinhas que se abriam como flores incandescentes. Ao lume, a velha panela de barro gorgolhava com a couve agarrada aos feijões que ameaçavam saltar para as labaredas. O pão torrado clamava por banha. No fogão, uma cafeteira de alumínio sardenta soltava um fio de vapor que anunciava café acabado de moer. O cheiro a naftalina, sabonete azul e espuma de barbear compunham o ramalhete. Assim era o Natal numa casa que ruiu. Fernando Guerreiro, São Brás de Alportel, 41 anos Escritiva nº 27  – cheiros

Desafio nº 27 - Cheiros

Os cheiros transportam-nos para outros tempos, para outros lugares, às vezes bons e outras vezes nem por isso. O cheiro a chulé não é que seja muito agradável, mas a mim traz-me lembranças divertidas pelas partidas que pregávamos a um amigo que era uma autêntica doninha fedorenta. O cheiro a alho também não me incomoda, pois faz-me pensar no Natal e na cozinha cheia de gente a preparar petiscos. Enfim, há muitos cheiros que nos trazem boas lembranças. Aqui fica um cheirinho de boas recordações: De repente, sentiu-se viajar no tempo, deixou-se envolver pela lembrança da cave onde o avô guardava as ferramentas para ressuscitar as bicicletas dos miúdos do bairro. Recordou a primeira queda e o primeiro beijo às escondidas da mãe. O primeiro cigarro, e o último que a asma não dera para mais. Recordou os calendários, as imagens do Tourmalet, os dias na beira da estrada à espera dos heróis. De repente, o cheiro intenso a cola fê-lo viajar. Paula Cristina Pessanha Isidoro, 36 ano