Eu confesso que gosto de
reutilizar tudo e mais alguma coisa, que fico feliz quando possso dar uma
segunda vida ao que quer que seja e adoro, adoro, adoro, comprar coisas em
segunda-mão. Ora, isto faz com que eu imagine muitas vezes como foi a vida
anterior de um determinado objeto, como era o seu dono, se foi bem ou
maltratado, esse tipo de coisas inúteis para o progresso do Mundo, mas que a
mim me deixam bastante mais tranquila.
Ora
é exactamente isso que proponho desta vez: imaginem como foi a vida de um
determinado objeto, por que atribulações passou, que sacrifícios teve que
fazer. Eu deixo-vos aqui um dos muitos exemplos que vos podia dar, já que me
dedico a imaginar vidas passadas em objetos do quotidiano.
Tinha nascido para ser lata,
coisa herdada de família a que não se atreveu a dizer que não chegado o momento
de acolher, mesmo contrariada, aquelas sardinhas. Se ainda fossem umas lulas
recheadas, um bacalhau com grão, mas sardinhas... O que não imaginava é que
acabaria no meio do mato, numa ração de combate convertida finalmente em
cinzeiro. De repente, sentiu saudades do mar e das sardinhas, respirou fundo e
conseguiu ainda sentir aquele cheiro a escama.
Paula
Cristina Pessanha Isidoro, 35
anos, Salamanca
Escritiva nº 19 - vidas passadas de objetos
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