O velho copo de cristal recordava-se de fazer parte do melhor serviço da
casa. Agora, por ser o único que sobrara, vivia numa vitrine, mesmo baço e
lascado.
Um dia usaram-no para jarra. Cheio de flores, enfeitava uma mesa. Não
gostava nada, numa sala de segunda, vestido de maricas, gozado pelos colegas...
Uma noite, o patrãozinho levou-o para o quarto e fez dele um aquário.
Com peixinhos encarnados, sentia-se ridículo... Então, deixou-se escorregar,
partindo-se em mil bocados.
Isabel Lopo, 71 anos,
Lisboa
Escritiva
nº 19 - vidas passadas de objetos
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